E hoje vou começar a postar sobre algo que,
ironicamente, acho dificílimo de escrever sobre. Meu projeto de pesquisa.
Isso mesmo! É difícil escrever sobre o que vou
estudar nos próximos quatro anos.
- Mas... você não teve
que escrever um projeto pra ganhar essa bolsa de doutorado, incluindo uma versão em inglês e
tudo?
Tive sim, mas uma coisa é escrever praticamente
no automático seguindo o roteirinho científico ou o roteirinho
me-ajuda-por-favor pra pedir financiamentos... outra coisa é escrever no meu
blog, onde eu escrevo do meu jeito... hm... natural e relaxado de ser. J
Mas acho importantíssimo escrever aqui o que
afinal eu vou fazer por todo este tempo com o apoio de tantas fontes financeiras
nacionais e internacionais (cof cof.. leve exagero), para que quem entre aqui
tenha ao menos uma ideia, né?
A historinha é a seguinte. No meu mestrado, eu
fiz um trabalho lindo do qual sou mega-orgulhosa, porque fui teimosa determinada
pra caramba em escolher e seguir em frente com um tema com o qual eu não tinha
grande familiaridade, e ainda por cima não saberia se conseguiria juntar dados
suficientes pra responder minhas perguntas. Mas era tipo um sonho, desde que
comecei a ler alguns artigos na graduação, estudar sobre o parentesco entre os
animais, relacionando isso com suas interações sociais e sua organização no
espaço. E eu fui firme na decisão, e aos pouquinhos, juntando uma amostra aqui
uma amostra ali, e passando muitas noites congelando no campo, batendo cabeça
pra aprender mais sobre genética e análises de parentesco, lutando com
programas de SIG e estatística, o trabalho saiu e ficou lindo, já tá publicado
em revista boa e todo mundo elogiou (ganhei até prêmiozinho, gente ^_^).
Depois fui ser “pesquisadora de ariranhas” J e seguir por um caminho bem
diferente, mas essa história de misturar genética, ecologia e conservação nunca
deixou de me interessar! E durante o tempo que passei na Amazônia, fui pensando
em várias possíveis ideias e perguntas nesse contexto que eu pudesse trabalhar
ali ( a floresta inspira, e muito!) . Até
que ano passado, tomei a decisão de voltar pra vida acadêmica – vide post
anterior (poxa, ela deve gostar de sofrer
né?); e finalmente pus no papel minhas ideias e achei um orientador que é “o
cara” nessa área e se interessou por elas.
Então, tirando fora meus gostos e interesses
pessoais – que existem né, não posso ser hipócrita! – minha “missão” geral
nesse projeto é contribuir um pouquinho mais no conhecimento de como estão atualmente
nossas populações de ariranhas e lontras no meio da amazônia brasileira –
usando as duas como um caso de estudo cujos resultados podem servir para “dar
uma luz” acerca de outras espécies de vertebrados que vivam pelos rios da bacia
amazônica, servir como base para medidas de gestão/conservação de espécies de
água doce, planejamento de unidades de conservação e tal.
Estas duas criaturinhas, além de serem
bichinhos muito fofos que eu amo de paixão, são importantes elementos da
cadeia alimentar, já que são predadoras – estão no topo da cadeia, comem
principalmente peixes – e sua presença é considerada importante para o
equilíbrio dos escossistemas aquáticos. Fora isso, convenhamos, quem é que não
gosta da idéia de saber que existem estes bichos incríveis saracoteando por aí,
nos nossos rios lindos brasileiros? Devia ser motivo de orgulho nacional.
Obs: essa não é nenhuma das minhas duas
espécies de estudo, mas achei o vídeo engraçado e elas são todas parecidas.
Rsrs
Enfim, voltando ao assunto.. a Amazônia é um
local muito inóspito e difícil de se trabalhar. E todos já sabemos do tanto de
ameaças as quais esse bioma está sujeito. Contudo ele ainda é um importante “refúgio”
para as ariranhas, lontras e muitas muitas outras espécies. As ariranhas, em
particular, são bichos que foram quase dizimados no passado devido ao comércio
de suas peles. Antigamente, elas podiam ser encontradas até na Mata Atlântica
(quando a pobre coitada também não era devastada).. hoje em dia o que sobrou
delas têm conseguido se recuperar justamente no Pantanal e na Floresta
Amazônica, que pelas suas maiores dimensões, abriga uma parcela importante de
populações da espécie – e para que ela continue a se recuperar nesse mundo
louco, temos que avaliar como estão as populações e ser realistas para tentar
avaliar como elas poderão lidar e se dar bem (ou não) com as inevitáveis
transformações do habitat causadas pelo nosso infeliz “progresso”. A genética
de populações é uma grande aliada nessa missão! Mas como falei, a Amazônia é
inóspita e há muito pouca informação sobre a diversidade genética desses
bichinhos por lá. Meu desafio (de novo!!!
porque eu só invento coisa difícil?!) vai ser juntar muitas amostrinhas de
diferentes locais da bacia amazônia para tentar ter um panorama da situação. Ver
como as populações estão conectadas, e daí ter uma noção de como os bichos
dispersam; ver se a caça causou alguma perda de diversidade genética nas
ariranhas (pouca diversidade é ruim na natureza... lembram da história de casamento entre
parentes? Pois é...); comparar as diferenças entre lontras e ariranhas, pois
elas têm diferentes padrões de socialidade e isso pode influenciar e muito nos
padrões e estrutura genética.. enfim.. se eu começar a detalhar muito, não
consigo manter uma linguagem simples LTenho que me treinar mais.
Isso pra dizer em poucas palavras, mas é claro
que o projeto vai envolver muito mais coisa. Coisas que eu ainda nem entendo
direito, aliás! Para isso vou para a Inglaterra, aprender... rsrs. Mas acho que
já consegui transmitir um pouquinho do que será esse peso nas costas desafio
com o qual quebrarei a cabeça pelos próximos tempos em nome da conservação da
nossa linda natureza.
E pra quem não vê ainda muito motivo ou acha
esquisito essa história de conservar e ser “defensor da natureza”, eu adoro
recomendar esse textinho aqui http://www.oeco.org.br/fernando-fernandez/19894-por-que-conservar-a-natureza-afinal/.
E podem assistir Dersu Uzala, esse filme é muito bom mesmo!
Trabalho muito complicado o de tentar "traduzir" a linguagem cientifica para a galera em geral, mas acho que com pratica da para fazer e mais se vc trabalha com criancinhas que eu acho q vc tinha feito isso no seu trabalho anterior.
ResponderExcluirTem que me contar mais daquela publicação numa revista boa! :)
Acho legal o projeto, espero ter mais informações disso nesses dias e não esqueça que ainda estou te esperando pela amazônia! volte já já!! ;)
saíram duas, uma das interações sociais (foi o que fiz apresent no congresso ) e outra, a principal, da estrutura genetica e dispersão, as duas J Mammalogy.
Excluirquando tiver mais tempo e paciência vou escrevendo... ;)
saíram duas, uma das interações sociais (foi o que fiz apresent no congresso ) e outra, a principal, da estrutura genetica e dispersão, as duas J Mammalogy.
Excluirquando tiver mais tempo e paciência vou escrevendo... ;)
Oi Vania!
ResponderExcluirÉ muito bom voltar a ler sobre suas aventuras e ainda mais com esse jeito todo especial divertido que você escreve. Você é a bióloga que eu não tive coragem de ser, hehehe...admiro muito seu trabalho, já falamos isso pessoalmente né.
Prêmio com o trabalho do mestrado?! Uau! Parabéns!!! Isso mostra que você está no caminho certo, que seu trabalho é muito relevante e certamente com o doutorado você vai produzir conhecimentos científicos necessários para conservação desses animais tão adoráveis e seu ecossistema...mas eu tenho que admitir uma coisa: ainda não sei reconhecer quem é quem! lontra ou ariranha...ariranha ou lontra...kkkk
muito sucesso!
bjs
Não sei porque meu perfil estava como unknown, mas agora já corrigi..
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